Boletim de notícias do MIRIM Brasil | nº 8

Segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Oie, gente querida! Tudo bem?

2020 começou há pouco tempo, mas já está a todo vapor. E o Carnaval está pertinho. Já sabe como vai aproveitar? Curtir a folia? Viajar? Descansar? Independente do que for fazer, temos um convite para você: neste Carnaval, vamos cuidar das nossas crianças, juntos e juntas? A nossa diretora, Sylvia Siqueira Campos, escreveu um texto sobre a tarefa coletiva que é o cuidar de crianças. Neste primeiro boletim do ano, falamos também sobre a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Nós, do MIRIM, acreditamos que a educação sexual é o caminho mais efetivo para prevenir a gravidez precoce. Trazemos ainda dicas de reportagens interessantes que encontramos no mundão da web, sobre infância, juventude, gênero e educação.

Boa leitura e feliz Carnaval!

Fabiana Maranhão
Jornalista do MIRIM Brasil
fabiana.maranhao@mirimbrasil.org.br

Educação é o caminho para prevenir a gravidez na adolescência

Estamos na Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Muito se tem falado sobre o tema desde o começo do ano, principalmente em torno da polêmica proposta do governo federal de incentivar os e as adolescentes a adiar o início da vida sexual, como forma de prevenir a gravidez precoce. A eficácia desse tipo de medida é bastante questionada.

A Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou documento que aponta falhas científicas e éticas dessa abordagem. A Organização Mundial da Saúde alerta que políticas que se concentram só no estímulo à abstinência sexual são ineficazes e podem prejudicar a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos dos e das jovens.

Essas e muitas outras organizações nacionais e internacionais defendem educação e informação adequadas como a ferramenta mais eficaz para lidar com essa questão. Para o MIRIM, educar crianças e adolescentes sobre sexualidade e relações de gênero é o melhor caminho para evitar a gravidez na adolescência e para enfrentar o machismo e prevenir violências.

O QUE ESTAMOS FAZENDO

Saiba um pouco mais sobre a atuação do MIRIM Brasil na luta pelos direitos humanos.

Direitos humanos

O Conselho Estadual de Direitos Humanos de PE, que o MIRIM faz parte, se reuniu pela primeira vez este ano em janeiro. Um dos assuntos debatidos foi a construção de uma resolução para que seja tipificado o crime de LGBTfobia no Estado, proposta feita pelo MIRIM após o assassinato de Sandro Cipriano.

Políticas públicas de juventude

O MIRIM também integra o Conselho Municipal de Juventude do Recife, que vai se reunir pela primeira vez este ano nos próximos dias. Um dos assuntos em pauta será a eleição do conselho, que deve ocorrer até março. O MIRIM defende que políticas públicas de juventude sejam desenvolvidas com e para as juventudes.

Desigualdade e gênero

A organização internacional Oxfam divulgou relatório em janeiro denunciando que meninas e mulheres estão na base da pirâmide da desigualdade, principalmente as negras, periféricas e vivendo em situação de pobreza. Neste vídeo, a diretora do MIRIM, Sylvia Siqueira Campos, afirma que "é urgente cuidar de meninas e mulheres.

NOSSA OPINIÃO

Cuidar de criança é uma tarefa coletiva
Por Sylvia Siqueira Campos, diretora do MIRIM Brasil

Que bonito o mundo seria se todas as crianças recebessem o mesmo tipo de cuidado. Na barriga da mulher, que, ali, já vai se tornando também mãe, no convívio familiar e comunitário, na creche, na escola, nos lugares públicos. O bom é que o Brasil avançou em termos legais. Mas a nossa vida cotidiana ainda não assimilou essas mudanças. O interessante é que o desejo de ver todas as crianças bem cuidadas permanece vivo nos nossos sonhos. Então, como tornar realidade esse novo mundo?

A gente poderia falar aqui de muita coisa. Montar uma análise sobre a efetividade das políticas públicas poderia ser a parte mais contundente. De fato, elas são imprescindíveis. Mas não faremos isso agora, pois falta algo mais profundo antes dessa análise. Está faltando responder a pergunta sobre que mundo a gente está ajudando a construir e que vai ficar para as próximas gerações. Isso tem relação direta com as escolhas mais simples que fazemos todos os dias. Essas escolhas, por sua vez, dizem quem a gente é e como a gente enxerga a outra pessoa, inclusive as crianças. Você já se perguntou, por exemplo, por que as crianças em situação de rua, à espera de adoção, os e as adolescentes no sistema de medida socioeducativa, as adolescentes grávidas ou ainda vítimas do trabalho infantil, na sua grande maioria, são negras? Será que a fórmula de desenvolvimento atual rompe os ciclos de pobreza? É possível que nossa forma de vida reforce o sistema que alimenta as desigualdades, os estereótipos e violências institucionais?

Não são perguntas fáceis de responder, ainda que em silêncio. Exige paciência, mas também requer coragem. Ninguém está errado ou errada por cuidar da sua criança, da sua família. A questão em si é não entender que esse estado de bem-estar precisa ser acessível a todas as crianças de todas as áreas da cidade em que a gente mora, no mundo inteiro. Casa, comida, roupa, brinquedo, lazer, transporte, esporte, informação segura e tudo o necessário para que ela se desenvolva de forma segura, saudável e feliz deve ser disponibilizado como um direito, e não como um produto de mercado. Leva quem pode pegar. Leva o melhor quem pode pagar mais.

Neste momento da leitura, você pode achar que não tem controle dessa mudança. Eu poderia até concordar. Mas eu sei, por vida-luta, que é possível contribuir para a transformação da estrutura da sociedade que tem condenado crianças negras à pobreza e outras violências. Felizmente, fui uma criança negra e periférica que recebeu atenção e cuidados de várias famílias e, hoje, posso afirmar que o nosso maior erro é não reconhecer a urgência da tomada de consciência política. Isso não é sobre partido. É sobre o desejo do mundo que a gente quer e como a gente se engaja para construí-lo. É sobre reconhecer que, sim, racismo e gênero são dois dos elementos que desenham a desigualdade. O sistema capitalista, que organiza a sociedade, é o terceiro componente do abismo entre as crianças. Essa estrutura perversa, e tão sutil porque é naturalizada, maltrata a grandiosa maioria de crianças no mundo.

Tem jeito de contribuir para cuidar de todas as crianças? O bom é que tem. Não é preciso um grande ato heróico-salvador. Cada pessoa deve assumir essa co-responsabilidade porque a questão é complexa, mas as ações são específicas. A gente pode começar enxergando as crianças ao redor, no círculo mais próximo. Apoiar o desenvolvimento físico, psíquico e emocional das crianças das famílias que trabalham onde a gente trabalha ou onde a gente mora. Demonstrar solidariedade material no processo educacional e alimentar dessas mesmas crianças. Entender criticamente o porquê da inexistência de creches, o que dificulta a autonomia financeira das mulheres e a geração de renda familiar. Logo, cobrar a construção de novas creches em todo o território da sua cidade. Essa mesma cidade precisa do seu engajamento direto observando a aplicação das leis, analisando as políticas públicas, exigindo melhorias para todas as crianças. Nunca deixe de denunciar uma violência. Fazer com que a criança recebe essa atenção individual e pública é cuidar também da família. Essa noção e prática de cuidado transforma. Crianças que foram cuidadas aprendem a cuidar de si e das demais pessoas. Basta a gente se engajar que esse mundo tem jeito!

O QUE ESTAMOS LENDO

Aqui você encontra sugestões de reportagens e textos interessantes que chegaram até a gente no último mês sobre educação, infância, juventude, gênero e direitos humanos.

Universa: Educação, e não abstinência, deve ser foco para prevenir gravidez precoce

Fórum: Qual a história e a importância da educação sexual?

Universa: Por que debate sobre gravidez na adolescência "esquece" de incluir garotos? 

Oxfam Brasil: Elite acumula fortunas às custas de mulheres e meninas pobres que passam vida em trabalhos domésticos e de cuidados

DP:Aumenta número de estudantes trans e travestis usando nome social nas escolas estaduais de PE

Carta Capital: Os desafios para as escolas garantirem os direitos dos e das estudantes trans

The Intercept Brasil: Você prefere seu açaí com granola, banana ou trabalho infantil? 

Quer saber mais sobre o MIRIM e chegar junto na luta pelos direitos de crianças, adolescentes e jovens?

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