O MIRIM se solidariza às famílias das dez pessoas mortas e das que ficaram feridas, bem como a toda a comunidade escolar, na tragédia ocorrida em março na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP).
Foi com muito pesar que soubemos da notícia de que um adolescente e um jovem, ex-alunos da unidade de ensino, entraram no local, atiraram contra alunos, alunas, funcionários e funcionárias e depois, segundo as autoridades policiais, cometeram suicídio. O governo do Estado de São Paulo precisa dar apoio psicológico de qualidade, de longo prazo, a todas as famílias afetadas diretamente e à comunidade escolar.
Uma das primeiras perguntas que nos fazemos é «Por que isso?». A equipe de investigação e a mídia tentarão achar razão nos perfis do rapazes; alguns políticos retomarão a proposição da redução da maioridade penal, outros tentarão dizer que o Estatuto do Desarmamento é um fracasso (como já fez o senador Flávio Bolsonaro, pelo Twitter). Nenhum deles dirá, nem pelo Twitter, que os altos cargos políticos do país criaram um ambiente de legitimação de todas as formas de violência.
Nós entendemos que uma das causas é o decreto nº 9.685, de 15 de janeiro de 2019, que facilita a posse de armas no Brasil – umas das principais bandeiras na campanha de Bolsonaro. Além disso, o governo federal propôs uma medida provisória para recadastrar armas ilegais, uma espécie de anistia das armas. Não por acaso, numa busca por remontar o mercado de armamento no Brasil, 117 fuzis M-16 foram encontrados pela polícia na casa de um amigo do policial militar Ronnie Lessa, apontado como um dos responsáveis pela execução da defensora de direitos humanos e vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Várias armas estavam com registros adulterados. Foi a maior apreensão de armas na história do Rio de Janeiro.
Nós condenamos quaisquer medidas que interfiram na vida do povo de forma trágica e que não se sustentam em estudos de políticas públicas, mas, unicamente, nos ideais violentos e punitivos de setores da sociedade e, obviamente, na vontade da indústria das armas. Aumentar o armamento da sociedade pode gerar pânico social, redução da presença das pessoas dos espaços públicos e até o aumento da precariedade dos serviços públicos, como a educação.
Nós esperamos da Presidência da República, das casas legislativas e do sistema de Justiça muito mais do que emissão de frases de condolências e solidariedade. É preciso consciência para reconhecer e abandonar o sistema de privilégios. É preciso responsabilidade histórica para redigir e aprovar projetos de lei que salvem vidas, principalmente das populações historicamente oprimidas. É preciso coragem para enfrentar o capital (que, inclusive, tem o mercado da guerra como um dos mais lucrativos para as grandes potências) e criar uma economia que promova igualdade com equidade. É preciso luta e persistência para enfrentar o horror político e fazer uma mudança civilizatória pela educação.
Nós, do MIRIM Brasil, nos colocamos à disposição das famílias da comunidade escolar de Suzano. Reforçamos nossa união às lutas comprometidas com a defesa dos direitos humanos e pelo bem viver. Não descansaremos de denunciar a negligência do Estado brasileiro em cuidar da população. Seremos chama acesa para todas as pessoas e coletivos que busquem justiça social.
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